quinta-feira, 5 de março de 2009

TV Digital

Na última terça-feira (3/3/2009), apresentei em Araraquara uma palestra sobre TV digital. Na ocasião abordei principalmente os aspectos de produção de material audiovisual interativo, já que o evento era voltado para novos alunos do curso de Design Digital da Uniara.

Como prometido, estou postando essa mensagem com alguns links sobre o assunto para quem queira aprofundar mais o tema. Recentemente, inclusive, apresentei no XXXI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, realizado em Natal (RN), um artigo sobre a linguagem NCL, que será utilizada para exibição de produtos interativos por meio do middleware Ginga.

Documents

Por falar em Ginga, há algumas semanas foi anunciada a publicação de um Live CD para o middleware pelos pesquisadores do Laboratório TeleMidia da PUC-Rio. Segundo os coordenadores da iniciativa:

  • Ginga Live CD é uma distribuição do sistema operacional Linux auto-contido em um CD, capaz de ser inicializado, utilizado e encerrado sem a necessidade de instalação do sistema ou configurações avançadas. O objetivo do Ginga Live CD é oferecer um ambiente de execução e testes de aplicações NCL e NCLua com opções para busca de conteúdo a partir de diversas fontes."
Enfim, eis ai mais uma oportunidade para quem queira experimentar a produção de programas interativos a partir das linguagens e tecnologias que serão utilizadas na TVD brasileira.



Outras novidades da semana sobre TVD no Brasil dizem respeito a visita que o ministro Hélio Costa fez ao Peru para divulgar o SBTVD; a chega ao mercado, enfim, do primeiro middleware baseado no Ginga, desenvolvido pela RCA Soft Informática; e ao acordo da Sun e Intel com o Java-DTV para disponibilizar uma versão especial da máquina virtual Java ME e o Java ME CDC Media Pack otimizados para o precursor dos System on Chip Intel, o processador CE 2110. O mais importante desta informação é que isso colabora para que o Fórum do SBTVD conclua o processo de normatização do Ginga-J (que utiliza as APIs JavaTVD) e resolva o problema do pagamento de royalties, permitindo o barateamento dos set-top-boxes.

Outras questões sobre regulamentação também estão em alta, como o anúncio da intenção do governo sobre o uso da multiprogramação para os canais comerciais e a publicação no Diário Oficial da União da decisão do Ministério das Comunicações sobre as regras para TV pública digital no Brasil.

Enfim, esses são apenas alguns tópicos sobre TVD no Brasil, principalmente sobre o que está ocorrendo em relação à tecnologia. Há vários outros aspectos técnicos, teóricos e políticos importantíssimos para o entendimento desse fenômeno e da forma como o paradigma digital tem instaurado novas visões para o entendimento que se tinha até então sobre cultura de massa e indústria cultural. Em outro momento voltaremos ao assunto.

segunda-feira, 2 de março de 2009

"Façam nossos computadores mais fáceis de usar"

A frase no título é de Michael L. Dertouzos, ex-diretor do Laboratório de Ciência da Computação do MIT (Massachusetts Institute of Technology), falecido em agosto de 2001.

Cheguei até essa referência ao ler o capítulo "A interação como problema" do brilhante livro de Alex Primo sobre a "interação mediada por computador". Na obra, o autor lembra que Dertouzos denuncia que "em vez das máquinas nos servirem, nós é que as servimos".

  • "Espera-se longamente pelo boot do computador e pelo carregamento de páginas na Web. Segundo ele, sentamos perplexos em frente a incompreensíveis mensagens do sistema e aguardamos frustrados pela ajuda telefônica do provedor. Fiéis aos upgrades constantes dos programas, rapidamente descobrimos, conforme o autor, que a nova versão também trava com freqüência. Dertouzos demanda intransigente: 'Façam nossos computadores serem mais fáceis de usar'. O autor espera que os computadores conversem conosco, façam coisas por nós, busquem informações que queremos, ajudem-nos a trabalhar com outras pessoas e se adaptem às nossas necessidades." (PRIMO, Alex. Interação mediada por computador: comunicação, cibercultura, cognição. Porto Alegre: Sulina, 2007, p. 35)

Alex Primo também cita outra referência interessante sobre as dificuldades da informática: o artigo One half a manifesto, de Jaron Lanier. No documento, considerado muito crítico, Lanier descreve o deslumbramento com a inteligência artificial e a impressão de que o computador está mais inteligente e mais humano como a sentença de que "as pessoas estão mais estúpicas e menos humanas!".

O polêmico manifesto também é mote do artigo "Inteligência artificial: Homens x Máquinas" publicado na Superinteressante em julho de 2002. O texto, de Denis Russo Burgierman, é bem didático ao comentar as críticas de Lanier, dando exemplos clássicos e cotidianos do uso dos computadores. São fatos com os quais nós convivemos todos os dias e, muito provavelmente, deixamos passar, sem fazer uma reflexão mais profunda daquilo que está mediando nossas relações no mundo digital.

Os artigos apresentados aqui são apenas algumas vozes dissonantes num mundo cada vez mais digitalizado e cada vez menos questionado. Por que os computadores são como são? A informática realmente dominará todos os setores da vida? A quem interessa o design das tecnologias?

Não quero atualizar o enredo de contos como o da Chapéuzinho Vermelho, relembrar a estrofe "Quem tem medo do lobo mau" e assustar os leitores desavisados. Não devemos encarar a informática como algo assustador. Porém, é sempre bom questionar.